A realidade virtual, ferramenta de transformação da indústria nuclear
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Na indústria nuclear, a realidade virtual está se tornando uma ferramenta valiosa para reforçar a segurança, particularmente através de treinamento. A Cegelec CEM está na vanguarda deste campo.
A transformação digital está revolucionando as práticas no mundo industrial, anunciando uma Indústria 4.0 ultra conectada, capaz de se adaptar a um grande número de mudanças ou perturbações. Este é particularmente o caso no setor nuclear, uma indústria de alta tecnologia com requisitos de segurança muito específicos. O uso da realidade virtual e de modelos digitais das instalações e processos se afiguram como aliados imprescindíveis, particularmente para o treinamento de pessoal, permitindo um melhor controle dos riscos associados a qualquer atividade nuclear. De fato, neste setor, a proporção de treinamento para o pessoal é três vezes maior do que a média nacional da indústria.
“A imersão completa da equipe do projeto rende informações que permitem reduzir os riscos de segurança, tanto ao nível técnico quanto ao do pessoal.”
Reduzir os riscos de segurança
As principais vantagens da realidade virtual são a possibilidade de realizar tarefas com total segurança, aperfeiçoar gestos técnicos e enfrentar diversos cenários em condições difíceis de serem recriadas durante a fase de preparação das intervenções. Dentro do Grupo VINCI Energies, a Cegelec CEM, empresa especializada na concepção e produção de sistemas e equipamentos eletromecânicos para setores altamente exigentes (nuclear, científico), desenvolveu uma expertise especializada nesta área. O departamento de “Simulação e Prototipagem” é inteiramente dedicado à criação de simulações e treinamentos complexos em realidade virtual para todos os projetos de alto risco encontrados no Polo nuclear.
“Nos últimos cinco anos, temos desenvolvido soluções de simulação aplicadas a revisões de projeto, por exemplo. Conseguindo a imersão completa da equipe do projeto, obtemos informações que nos permitem reduzir os riscos de segurança, tanto ao nível técnico quanto ao do pessoal”, explica Michaël Brochier, responsável CAD e em Realidade Virtual na Cegelec CEM. Mas, nos últimos dois ou três anos, sua equipe também vem implantando a realidade virtual nas formações. “Isto permite aos operadores aprenderem, por exemplo, como acionar máquinas de difícil acesso por razões de segurança ou disponibilidade. Containers móveis dedicados à formação acompanham as equipes para que elas possam ser treinadas o mais próximo possível de seu local de intervenção.” Os operadores podem assim se preparar melhor logo antes de uma manipulação. É o caso, por exemplo, da instalação de uma garra em uma piscina nuclear ou da operação de uma máquina de carregamento em um edifício do reator. “Este trabalho de simulação permite ganhar muito em termos de tempo e eficiência. Também permite capitalizar o conhecimento do know-how destes ofícios, diz Michaël Brochier, sem esquecer os benefícios ambientais: os formandos não precisam viajar e não é mais necessário montar instalações pesadas”.
O uso da realidade mista
Para ir ainda mais longe, a Cegelec CEM está atualmente projetando um gêmeo digital do comportamento da máquina de carregamento. “A ideia é combinar uma simulação de realidade virtual com a simulação da parte operacional, ou seja, o funcionamento de todos os equipamentos da máquina“, explica Michaël Brochier. “Desta forma, podemos reproduzir fielmente o funcionamento real do equipamento. Podemos criar e trabalhar em eventos que não teriam sido previstos por uma simulação clássica. A realidade virtual ajuda a tornar o design e a ergonomia de um projeto mais confiáveis e, ao mesmo tempo, a alcançar o desempenho e a conformidade necessários.”
Mais avançada ainda, uma tecnologia de realidade mista tem sido implementada desde 2020 pela Cegelec CEM. A realidade mista disponibilizada pelo headset HoloLens 2 da Microsoft permite colocar um objeto holográfico 3D em um ambiente real. Com Vizu, o aplicativo independente desenvolvido pela equipe de Michaël Brochier, os operadores podem levar junto uma biblioteca de componentes 3D para testar equipamentos complexos em ambientes que regularmente evoluem. Esta ferramenta otimiza as idas e vindas entre o local e o escritório de projeto e, assim, reduz o retrabalho. “O pessoal de terreno aprecia muito esta tecnologia, que permite facilmente verificar se a instalação está correta no momento certo, e também compartilhar os resultados com as diversas pessoas envolvidas no projeto: trabalhadores, clientes, etc. Esta tecnologia está cumprindo suas promessas e está revolucionando concretamente os usos no terreno“, afirma o especialista da Cegelec CEM.
Uma tese para avaliar a eficácia da realidade virtual
Em colaboração com o CEA, o Laboratório de Engenharia de Sistemas Físicos e Digitais (Lispen) e o Centro de realidade virtual do Mediterrâneo (CRVM), a equipe de Michaël Brochier acolhe desde setembro de 2021, e durante três anos, um doutorando, que está preparando uma tese intitulada “Metodologia de validação da simulação imersiva de gestos complexos em um ambiente complexo”. Esta pesquisa visa verificar até que ponto as tecnologias imersivas podem garantir um comportamento equivalente ao caso real, em particular avaliando o impacto do feedback sensorial (táctil, auditivo, olfativo, etc.) sobre a eficácia do gesto.
08/09/2022